sábado, 8 de novembro de 2008

Dissolução

Talvez eu devesse celebrar a vida, celebrar a alegria de viver.

No fundo eu sinto que é isso mesmo que eu deveria fazer, no fundo eu sei que, como no final de "Sob as rodas" de Hemann Hesse, o segredo talvez resida em "deixar-se cair", deixar-se levar pela vida sem preocupar-se em demasia, sem questionar- se sobre significados ocultos, sentidos, propósitos... Desfrutar a alegria de viver, despreocupadamente.
Sim, eu sei. Tudo bem, é isso ai. Vocês têm razão.

Mas, por outro lado, alguma coisa me diz que essa dor surda no fundo de mim, essa nota dissonante, às vezes melancólica, por vezes angustiada, de uma angústia sem nome e sem causa, essa ferida aberta e pulsante, como um coração vivo, vivo, vivo...

Essa dor não deve ser ignorada.


Não deve ser ignorada porque da superação dessa dor brota a fonte da alegria plena.

Superação, digo? Será aceitação, talvez? Porque a dor permanece lá, o espanto surge até no meio do riso; o medo antigo faz presa de nós ao olharmos para nossas próprias mãos e pensarmos em nossos ossos lá no seu fundo silencioso, se pensarmos em nossos pulmões a se encherem de ar, e no dia inevitável em que não mais se encherão. A dor permanece lá, e se eleva entre as outras notas de alegria ou prazer, e se mistura a elas, e com elas forma a sinfonia das nossas vidas.

Aceitação.

Eres pequeno, oh homem ridículo

frágil

fraco

impotente

a tempestade do tempo sopra em teu rosto

o vento arrasta tua força, teus cabelos, teus desejos, teus sonhos

teus amores de juventude não são mais jovens e teus dentes não são mais os mesmos

ou não serão mais ou mesmos, pouco importa tua idade

veja bem, sua vida é nada

já foi

você já está morto.

A hora não chegou ainda?

Apenas um detalhe... ela não tem pressa; a presa é garantida.

Mas deixe que tudo se vá,

amores dentes força cabelos sonhos desejos

lembre-se que não eram seus

e que apenas passaram por um lugar que nunca existiu

convergência apenas somos nós

vá com eles, deixe - se cair

encontre então a alegria da dissolução

a liberdade de ser o que se vai, o que se esvai

eterna impermanência

silencio sonoro.


2 comentários:

nadja disse...

celebre-a!! A existência é preciosa...mas sei que todas essas dúvidas, medos, crises, são nossos, que colocam uma névoa nos nossos olhos e assim, tudo que olhamos fica turvo...mas isso é tudo ilusão 'idiótica', como dizia um amigo meu...
Sérgio!! lembrei agora do filme " quem somos nós?/" Já assistiu? è muito boommm In English " What the bleep do we know?", um documentário fantástico que mostra a conexão entre a física quântica e a a consciência, acho q vale a pena checar, pra entender melhor o funcionamento de nossa mente...xxx

Anônimo disse...

That is so deep. To achando meu blog agora cheio de futilidades que não levam a lugar algum...