sábado, 29 de novembro de 2008

Pharmakón.

Estranha coisa, a paixão.

Ela chega inocente, como uma primavera suave de brisa morna e agradável; com pássaros despreocupados e crianças sorridentes brincando no parque.

A gente não desconfia de nada e caminha eufóricamente com um sorriso leve, ou escancarado; feliz, em todo caso.

O sexo é alegre, leve, simples...

Então aparece uma nuvem escura em forma de palavra mal entendida, ou mal escolhida, ou mal pronunciada. Ou então um gesto de conseqüencias inesperadas, uma proposta rejeitada...

O que acontece então no coração depende de cada um, ou de ambas as pessoas envolvidas.

Pode ser um esfriamento súbito, como se o inverno se revoltasse contra essa primavera incipiente e decidisse relembrar que é ele quem se esconde no fundo de todas as coisas.

Pode ser, também, que em um, ou em ambos, um desepero surdo comece a pulsar bem no meio das tripas, o medo da ausência do outro, da perda irreparável, de que o que já foi não possa ser repetido; que não voltem mais os beijos, os risos, as carícias, as noites juntos; que na sua casa não se encham mais duas taças de vinho, que tenhamos que dormir com a insuportável presença do teu vazio.

Ou pode ser, também, que não aconteça nada e que a nuvem se dissipe no mesmo instante em que aponta no horizonte, pelo mágico poder curativo que a própria paixão confere às palavras e aos gestos do ser adorado (não digo "amado" porque bem pode ser que o apaixonado não "ame" exatamente).

Então, o "adorado" detem dois poderes outorgados pela paixão: ferir e curar.

Como uma droga. Um fármaco.

Uma droga é um medicamento, na dose adequada, ou um veneno mortal, se tomada em excesso. Pode curar, intoxicar, ou até matar.

Devemos levar em consideração essa qualidade farmacológica da paixão e estudar a sua toxicologia? A posologia do amor? A dosagem adequada, correta, prudente, científica?

Fiquem à vontade. Cada um tem o pleno e total direito de escolher como vai viver o seu tempo aqui neste lugar.

Quanto a mim, podem vir as nuvens negras.

4 comentários:

Anônimo disse...

Adorei essa parte: "dormir com a insuportável presença do teu vazio"

Lourdes disse...

Parabéns pelo blog!!
Sérgio, o blog já está nos meus favoritos e vou acessar sempre aqui para ler as novidades!
xoxo

nadja disse...

sempre atual falar da paixão..não tem esse ou essa que não tenha caído ou se erguido nesses nós da paixão...amedronta, é voraz, explícita, doloroooosaaaa...mas é também embriagante, extasiante, deliciosa..revela muito de quem e como somos,gostei de te ouvi falar.

Fernanda Baggio disse...

Nossa! Estou passada! Lindo texto.
Sem palavras. Gostei muito.